segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Feliz Dia do Livro


Hoje, 29 de outubro, é o Dia Nacional do Livro, e como uma forma de homenagear aquele amigo que diante do silêncio e da solidão se faz sempre presente, resolvi escrever sobre um, dos muitos, que mais marcou minha vida de leitora fanática. Aqui vai a dica de um ótimo livro! 


Alguém nasce mal? Ou a vida o torna mal?



Em Precisamos Falar Sobre O Kevin, Lionel Shriver aborda os pormenores de uma sociedade neurótica com serial killers. O livro, que virou Best-seller, foi publicado em 2003, tendo um curto período de distância com o famoso Massacre de Columbine, ocorrido em abril de 1999.

Devido a este e os inúmeros casos semelhantes em escolas do mundo inteiro, a reflexão apontada tão amplamente no romance, tornou-se mais atual impossível, questionando, comportamentalmente, qual seria a forma de alguém tornar-se mal. Afinal, o que é maldade?  Ela nasce dentro da pessoa ou é adquirida com o tempo? Qual é a responsabilidade dos pais na criação e imposição de limites a seus filhos? Nenhuma dessas perguntas é respondida, nem mesmo analisadas a fundo na área psicológica, porém, em sua narrativa, Shriver incentiva o leitor a refletir e chegar às próprias conclusões.

Eva Khatchadourian vivenciou através de Kevin, seu primogênito, algo que poderia responder a todas essas perguntas, porém, mais a impregnou de dúvidas e depressão. Através de cartas ao marido, Eva nos conta sua situação atual enquanto recobra ao passado, de uma forma reflexiva e detalhista do ponto de vista emocional e comportamental, ao afundar-se em memórias da sua própria vida e tentar entender qual foi o ponto alvo na criação que deu ao filho para que o mesmo perdesse a cabeça, como o fez, ao entrar em sua escola e matar com seu arco e flecha, tão apreciado esporte, sete colegas e dois professores.

Desde o início de seus relatos, Eva nos leva a viver sua vida sem qualquer medo, desde a dura infância, até a decisão e aceitação de ter um filho. Já que não tem mais nada a perder, de forma cruel e sem medir palavras, se dá conta do quanto ela mesma era parecida com Kevin, tanto física quanto psicologicamente, e procura entender qual era o sentimento de competição, não só pela atenção do marido e pai, Franklin, quanto pela atenção e ódio entre mãe e filho.  Chega a contar que fora uma mãe ruim em muitos aspectos, e que inclusive, chegou a odiar o filho e que muitas vezes desejou que ele não tivesse nascido.

 “Quando parei de me revirar para pôr o casaco, ele disse: “Você pode enganar os vizinhos, os guardas, Jesus e a sua mãe gagá com essas visitas de mãe boazinha, mas a mim você não engana. Continue com isso, se quer uma estrela dourada. Mas não precisa arrastar a sua bunda até aqui por minha causa.” Depois acrescentou: “Porque eu odeio você."

(...) Em vez de frases feitas, eu disse no mesmo tom informativo: “ Em geral eu também odeio você, Kevin.”, e me virei para ir embora.” (Pág. 58/59)


Em geral, Kevin é um personagem muito complexo, criado sob variações e temperamentos inigualáveis. É dotado de uma inteligência acima da média e de gostos incomuns, como o por vírus de computador e roupas menores. Mais que intrigante, ele tornou-se obra de Lionel, instigante e surpreendente, daquele tipo de personagem que é praticamente impossível prever e supor alguma coisa. Irritante e debochado, Eva o descreve narrando todas suas peculiaridades, tentando se convencer de que é tudo coisa de sua cabeça. 
   
“Mas, desde o momento em que foi posto em meu peito, enxerguei Kevin Khatchadourian como preexistente, alguém com uma vasta vida interior flutuante, cuja sutileza e intensidade diminuiriam com a idade. Acima de tudo, ele me parecia um ser oculto.” (Pág. 141)

Expondo seus sentimentos e dúvidas, Eva é uma personagem um pouco mais real e sentimental, o que leva ao leitor muitas vezes se identificar com o personagem e seus anseios. Porém, devido à falta de tato, pode causar, inclusive, certo desconforto na análise da personagem, questionando a si mesma e ao leitor, se o filho realmente nascera mal ou se fora culpa dela, as atrocidades cometidas por ele.

Apesar de ser uma leitura lenta e um pouco cansativa, por se tratar de uma narrativa epistolar e ter um conteúdo pesado, o livro criado por Lionel Shriver conseguiu surpreender muito mais do que o esperado, travando tantas mais perguntas sem respostas que prendem o leitor até o fim, para finalmente se descobrir que as respostas, na verdade, não existem.

Precisamos Falar Sobre o Kevin apresenta uma narrativa perfeita, não linear, que angustia o leitor do início ao fim, e por ser tão realista, dura e profunda, abrange um público menor, que tenta analisar o que pode se passar na mente de alguém tão perverso quanto Kevin.

No cinema



Adaptado pelo cineasta Lynne Ramsay, a releitura do best-seller homônimo de Shriver, foi lançado nos cinemas em 2011 e foi eleito o melhor filme no Festival de Cinema de Londres, no mesmo ano.

Interpretada por Tilda Swinton, de As Crônicas de Nárnia, Eva, tem a mesma aura cansada e melancólica a qual suas cartas refletem, e é claro que o personagem de maior foco, Kevin, também não deixa a desejar, sendo interpretado por Jasper Newell, na infância, e Ezra Miller, na adolescência.

O filme mantém a originalidade apresentando diversos flashbacks e é um tanto quanto sombrio e obscuro, como o tema, devido aos cortes de cenas e foco.

Assim como no livro, o filme serve não só para apresentar os dramas da mãe que tem no filho um potencial serial killer, e sim para questionar, indubitavelmente, como surge o mal dentro de cada um. 


E para você? Qual o livro que mais o marcou? Conte-nos um pouquinho!